“Os nossos são muito mais emocionantes. Têm mais alegria”, afirma o escritor Marcelino Freire quando questionado sobre as diferenças entre os festivais literários brasileiros e no exterior. Ele acabava de voltar da Feira de Frankfurt, onde o Brasil foi homenageado neste ano, e preparava-se para a oitava edição da Balada Literária, que organiza em São Paulo (SP).
O evento, que acontece em diversos espaços da capital paulista, durante quatro dias, com entrada grátis, mobiliza os interessados no que ele chama de “literatura sem frescura”. “Na Balada Literária o nosso negócio é se divertir e ser feliz. Chega de solenidade, de discurso. A literatura precisa de vida. O que a Balada faz é isto: tira a literatura das estantes, dos ambientes fechados, e põe na rua, nos cafés, ao lado do leitor”, diz.
Pela primeira vez, neste ano Freire conseguiu aprovação na Lei Rouanet e apoio financeiro para o evento, embora sempre tenha contado com o apoio de muita gente e espaços culturais da cidade, como Livraria da Vila, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Centro Cultural b_arco, SESC Pinheiros e Itaú Cultural. “Mas a gente precisava de apoio onde esses parceiros não conseguem cobrir: gastos de equipe, produção, traslados, refeição”, lembra. O apoio veio da Editora FTD e do banco Itaú.
“Essas duas empresas conhecem a minha luta e se comoveram com ela. No entanto, foram apenas duas cotas que conseguimos. Batemos em outras portas e não foram abertas. Acho que a Balada Literária não é um evento, sei lá, engravatado, cerimonioso. É, de fato, uma festa para todos e todas, gratuita. A maioria das empresas parece que gosta de evento caro, evento cheio de pompa. A Balada é o inverso disto. É uma festa que preza pela informalidade.”
Em entrevista ao portal No Ar, do Rio Grande do Norte, o escritor José Eduardo Agualusa afirmou que falta personalidade aos festivais literários no Brasil. Freire é um exemplo de que há personalidade, mas se já existe dificuldade em conseguir apoio para festivais mais tradicionais, quem dirá para os que propõem um novo olhar.
Possibilidades – A maioria ainda baseia seu financiamento em leis de incentivo, mesmo sabendo que deveria haver outras formas de viabilização. “O mercado reconhece as leis de incentivo, mas é interessante pensar em modelos que não tenham dependência das leis. Os eventos teriam que ser viabilizados pela venda de ingressos e outras iniciativas”, afirma José Luiz Tahan, idealizador daTarrafa Literária, que acontece na cidade de Santos (SP) e neste ano teve sua 5ª edição, também com entrada gratuita.
“Captamos 50% em Rouanet e outra metade em marketing direto. Nosso objetivo é captar uma média de R$ 400 mil por ano. Temos trabalhado para tornar o evento mais surpreendente e consolidado em relação aos anos anteriores”, conta Tahan, que para montar a programação do evento conta com sugestões de editores, jornalistas e tradutores. “Somos muito receptivos a novas – e boas – sugestões. Elas são essenciais para que o festival não fique monótono e viciado em caminhos repetidos. Recebo ofertas sim, mais de escritores do que editores, mas esperamos que nos próximos anos esse cenário seja ainda melhor.”
Para Fernando Ramos, da Festa Literária de Porto Alegre (FestiPoa), a literatura é uma arte em constante diálogo com outras expressões, daí o fato de a programação dos festivais de literatura hoje envolverem também música, cinema e teatro, entre outras. “O público sempre é interessado em riquezas artísticas. A Academia, as instituições e alguns ‘pseudo-intelectuais’ que se acham formadores de opinião é que não querem perceber, ou não percebem isso”, defende Ramos.
A FestiPoa teve um orçamento de R$ 150 mil em 2013 – em 2012 foi de R$ 80 mil, em 2011, R$ 35 mil. “O aumento da estrutura se deve sobretudo ao trabalho da equipe que produz a festa”, diz Ramos, afirmando que não seria possível promover o evento sem as leis de incentivo e apoios financeiros. “Alternativas seriam políticas públicas de desenvolvimento de ações para a leitura e o livro, projetos públicos de longo prazo, que fossem mais objetivos e menos burocráticas. Mas isso está longe de acontecer, pelo menos no Rio Grande do Sul.”
Segundo dados da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2011, feita pelo Instituto Pró-Livro/Ibope, 6% da população consumidora de livros no país faz suas compras em bienais ou feiras de livro. Antonio Campos, curador da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), acredita que as festas literárias, na medida em que crescem, buscam inovar e definir um portfólio que contemple outras gamas do conhecimento e da expressão artística e literária. “Cada impulso criativo faz crescer o gosto pela literatura, tudo aí converge para a expressão literária”, defende.
Participação - A Fliporto recebe aporte de recursos incentivados e de marketing para viabilização da montagem de estrutura tendas, geradores, climatização, som e iluminação, equipamentos de informática, passagens aéreas, hospedagem. “Todos os anos os aportes incentivados vêm aumentando devido à Fliporto procurar incrementar sempre em seu tamanho no quesito estrutura, agregar novos pólos, trazer convidados renomados na área literária nacionais e estrangeiros, sem esquecer os valores locais, boas atrações em toda programação. Isso reflete no aumento da participação do público presencial com variação, em média, de 10.000 de um ano para o outro”, afirma Campos.
Após um ano (2011) com Lei Rouanet, verba do Governo Estadual/EMPETUR, marketing e recursos próprios e outro (2012) sem a lei de incentivo federal (que foi liberada apenas um mês antes do evento), em 2013 a organização dispensou a verba do Governo Estadual/EMPETUR – por decisões internas, segundo Campos – e contou com R$ 1,6 milhão de Rouanet e R$ 250 mil de verba de marketing. “O volume de recursos varia não em função do que a Fliporto representa, mas sim de quais verbas incentivadas podemos oferecer”, explica o curador.
Um projeto com quatro mil metros de tenda e piso montados na Praça do Carmo; um pavilhão para o Congresso Literário com 1.100 lugares, climatizado, com palco, camarim, sala vip e suporte; um pavilhão para Feira do Livro com 28 stands, um auditório para 30 lugares, uma sala de autógrafo, tudo climatizado, além de outras tendas. “Sem verba incentivada e outros aportes de terceiros a estrutura para o evento, seria muito difícil, quase impossível, promover o evento.”
A 9ª edição da Bienal do Livro de Pernambuco, que aconteceu um mês antes da Fliporto, teve um investimento total de R$ 2,6 milhões, mesmo patamar dos anos anteriores, segundo Rogério Robalinho, coordenador geral do evento. Houve patrocínio do BNDES e da Petrobras, através da Lei Rouanet, e da editora Ciranda Cultural, por verba direta, além de diversos apoios de instituições públicas e privadas, universidades, editoras e veículos de mídia diversos.
Mas pela primeira vez desde que surgiu, em 1997, a Bienal não contou com a presença dos principais agentes públicos do Estado: o Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife. “Isso gerou uma enorme dificuldade para a viabilização da Bienal, chamada pela própria imprensa local de ‘Bienal da resistência’”, conta o coordenador. “Foi necessário muito esforço e a colaboração de várias pessoas e entidades públicas e privadas, que acreditam na continuidade de um sonho que virou realidade e não podia se tornar um pesadelo. A programação não sofreu mudanças porque insistimos com a ideia de que uma bienal não pode ser apenas um evento mercantil: trata-se de um momento extremamente precioso para a formação de leitores, especialmente entre as crianças”, lembra Robalinho.
Formar novos leitores e fomentar a leitura, por meio de um espaço para troca de ideias entre autores e seus leitores, é o objetivo da Pauliceia Literária, evento que teve sua primeira edição neste ano na capital paulista e foi realizado e patrocinado pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), com apoio de parceiros diversos – como Livraria Cultura, Embaixada de Portugal, FGV, Sesc e CCBB. Cerca de duas mil pessoas estiveram no local do evento, durante quatro dias.
A curadora, Christina Baum, conta que procurou incluir na programação algumas mesas temáticas que fizessem a ponte entre a literatura e o mundo jurídico, como: “O Advogado do Diabo”; “Shakespeare e a Lei”; “Advogado, profissão: escritor” e “As Letras da Lei”, mas também experimentar algo original, como “Qual é o tema?” com Ignácio de Loyola Brandão e Eros Graus. Nessa mesa, os temas foram sugeridos pelo público, via internet, depositados em uma urna e sorteados pela plateia durante o evento. “Acho importante pensar novos formatos e eventos mais interdisciplinares, como: literatura e cinema, novelas gráficas e poesia, música e palavras, entre outros.”
Ao que parece, o desafio de todos é aliar a diversidade na programação com novas possibilidades de financiamento.
Pela primeira vez, neste ano Freire conseguiu aprovação na Lei Rouanet e apoio financeiro para o evento, embora sempre tenha contado com o apoio de muita gente e espaços culturais da cidade, como Livraria da Vila, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Centro Cultural b_arco, SESC Pinheiros e Itaú Cultural. “Mas a gente precisava de apoio onde esses parceiros não conseguem cobrir: gastos de equipe, produção, traslados, refeição”, lembra. O apoio veio da Editora FTD e do banco Itaú.
“Essas duas empresas conhecem a minha luta e se comoveram com ela. No entanto, foram apenas duas cotas que conseguimos. Batemos em outras portas e não foram abertas. Acho que a Balada Literária não é um evento, sei lá, engravatado, cerimonioso. É, de fato, uma festa para todos e todas, gratuita. A maioria das empresas parece que gosta de evento caro, evento cheio de pompa. A Balada é o inverso disto. É uma festa que preza pela informalidade.”
Em entrevista ao portal No Ar, do Rio Grande do Norte, o escritor José Eduardo Agualusa afirmou que falta personalidade aos festivais literários no Brasil. Freire é um exemplo de que há personalidade, mas se já existe dificuldade em conseguir apoio para festivais mais tradicionais, quem dirá para os que propõem um novo olhar.
Possibilidades – A maioria ainda baseia seu financiamento em leis de incentivo, mesmo sabendo que deveria haver outras formas de viabilização. “O mercado reconhece as leis de incentivo, mas é interessante pensar em modelos que não tenham dependência das leis. Os eventos teriam que ser viabilizados pela venda de ingressos e outras iniciativas”, afirma José Luiz Tahan, idealizador daTarrafa Literária, que acontece na cidade de Santos (SP) e neste ano teve sua 5ª edição, também com entrada gratuita.
“Captamos 50% em Rouanet e outra metade em marketing direto. Nosso objetivo é captar uma média de R$ 400 mil por ano. Temos trabalhado para tornar o evento mais surpreendente e consolidado em relação aos anos anteriores”, conta Tahan, que para montar a programação do evento conta com sugestões de editores, jornalistas e tradutores. “Somos muito receptivos a novas – e boas – sugestões. Elas são essenciais para que o festival não fique monótono e viciado em caminhos repetidos. Recebo ofertas sim, mais de escritores do que editores, mas esperamos que nos próximos anos esse cenário seja ainda melhor.”
Para Fernando Ramos, da Festa Literária de Porto Alegre (FestiPoa), a literatura é uma arte em constante diálogo com outras expressões, daí o fato de a programação dos festivais de literatura hoje envolverem também música, cinema e teatro, entre outras. “O público sempre é interessado em riquezas artísticas. A Academia, as instituições e alguns ‘pseudo-intelectuais’ que se acham formadores de opinião é que não querem perceber, ou não percebem isso”, defende Ramos.
A FestiPoa teve um orçamento de R$ 150 mil em 2013 – em 2012 foi de R$ 80 mil, em 2011, R$ 35 mil. “O aumento da estrutura se deve sobretudo ao trabalho da equipe que produz a festa”, diz Ramos, afirmando que não seria possível promover o evento sem as leis de incentivo e apoios financeiros. “Alternativas seriam políticas públicas de desenvolvimento de ações para a leitura e o livro, projetos públicos de longo prazo, que fossem mais objetivos e menos burocráticas. Mas isso está longe de acontecer, pelo menos no Rio Grande do Sul.”
Segundo dados da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2011, feita pelo Instituto Pró-Livro/Ibope, 6% da população consumidora de livros no país faz suas compras em bienais ou feiras de livro. Antonio Campos, curador da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), acredita que as festas literárias, na medida em que crescem, buscam inovar e definir um portfólio que contemple outras gamas do conhecimento e da expressão artística e literária. “Cada impulso criativo faz crescer o gosto pela literatura, tudo aí converge para a expressão literária”, defende.
Participação - A Fliporto recebe aporte de recursos incentivados e de marketing para viabilização da montagem de estrutura tendas, geradores, climatização, som e iluminação, equipamentos de informática, passagens aéreas, hospedagem. “Todos os anos os aportes incentivados vêm aumentando devido à Fliporto procurar incrementar sempre em seu tamanho no quesito estrutura, agregar novos pólos, trazer convidados renomados na área literária nacionais e estrangeiros, sem esquecer os valores locais, boas atrações em toda programação. Isso reflete no aumento da participação do público presencial com variação, em média, de 10.000 de um ano para o outro”, afirma Campos.
Após um ano (2011) com Lei Rouanet, verba do Governo Estadual/EMPETUR, marketing e recursos próprios e outro (2012) sem a lei de incentivo federal (que foi liberada apenas um mês antes do evento), em 2013 a organização dispensou a verba do Governo Estadual/EMPETUR – por decisões internas, segundo Campos – e contou com R$ 1,6 milhão de Rouanet e R$ 250 mil de verba de marketing. “O volume de recursos varia não em função do que a Fliporto representa, mas sim de quais verbas incentivadas podemos oferecer”, explica o curador.
Um projeto com quatro mil metros de tenda e piso montados na Praça do Carmo; um pavilhão para o Congresso Literário com 1.100 lugares, climatizado, com palco, camarim, sala vip e suporte; um pavilhão para Feira do Livro com 28 stands, um auditório para 30 lugares, uma sala de autógrafo, tudo climatizado, além de outras tendas. “Sem verba incentivada e outros aportes de terceiros a estrutura para o evento, seria muito difícil, quase impossível, promover o evento.”
A 9ª edição da Bienal do Livro de Pernambuco, que aconteceu um mês antes da Fliporto, teve um investimento total de R$ 2,6 milhões, mesmo patamar dos anos anteriores, segundo Rogério Robalinho, coordenador geral do evento. Houve patrocínio do BNDES e da Petrobras, através da Lei Rouanet, e da editora Ciranda Cultural, por verba direta, além de diversos apoios de instituições públicas e privadas, universidades, editoras e veículos de mídia diversos.
Mas pela primeira vez desde que surgiu, em 1997, a Bienal não contou com a presença dos principais agentes públicos do Estado: o Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife. “Isso gerou uma enorme dificuldade para a viabilização da Bienal, chamada pela própria imprensa local de ‘Bienal da resistência’”, conta o coordenador. “Foi necessário muito esforço e a colaboração de várias pessoas e entidades públicas e privadas, que acreditam na continuidade de um sonho que virou realidade e não podia se tornar um pesadelo. A programação não sofreu mudanças porque insistimos com a ideia de que uma bienal não pode ser apenas um evento mercantil: trata-se de um momento extremamente precioso para a formação de leitores, especialmente entre as crianças”, lembra Robalinho.
Formar novos leitores e fomentar a leitura, por meio de um espaço para troca de ideias entre autores e seus leitores, é o objetivo da Pauliceia Literária, evento que teve sua primeira edição neste ano na capital paulista e foi realizado e patrocinado pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), com apoio de parceiros diversos – como Livraria Cultura, Embaixada de Portugal, FGV, Sesc e CCBB. Cerca de duas mil pessoas estiveram no local do evento, durante quatro dias.
A curadora, Christina Baum, conta que procurou incluir na programação algumas mesas temáticas que fizessem a ponte entre a literatura e o mundo jurídico, como: “O Advogado do Diabo”; “Shakespeare e a Lei”; “Advogado, profissão: escritor” e “As Letras da Lei”, mas também experimentar algo original, como “Qual é o tema?” com Ignácio de Loyola Brandão e Eros Graus. Nessa mesa, os temas foram sugeridos pelo público, via internet, depositados em uma urna e sorteados pela plateia durante o evento. “Acho importante pensar novos formatos e eventos mais interdisciplinares, como: literatura e cinema, novelas gráficas e poesia, música e palavras, entre outros.”
Ao que parece, o desafio de todos é aliar a diversidade na programação com novas possibilidades de financiamento.
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